sexta-feira, 30 de março de 2012

O significado do Metodo Montessori



“Eu desejo o homem que venceu a si mesmo e se desenvolveu espiritualmente . Eu desejo o homem que conservou o corpo sadio e forte. Eu desejo o homem que desejar unir-se a mim para procriar um filho ! Um filho melhor e mais perfeito, mais forte do que todos que já foram criados.”

Maria Montessori, Da infancia àAdolescencia Gazanti 1970


Nas primeiras décadas do século passado, quando Maria Montessori falava sobre seu trabalho, ela própria dizia que o Método Montessori poderia ser definido como uma ajuda à vida.
Uma ajuda com a finalidade de possibilitar à personalidade humana a conquista de sua independência; como um meio para libertá-la das opressões e dos prejuízos aos quais era submetida em nome da “educação”.
Para Maria Montessori era a personalidade humana e não o método de educação que deveria ser considerado. Sinalizava então que o conhecimento científico da natureza das crianças e o reconhecimento dos seus direitos universais deveriam ser o sustentáculo para qualquer procedimento educacional
O homem é universal, quer esteja na Índia, na Europa, na América ou no Brasil, as leis que regem o seu desenvolvimento são as mesmas.
Mas onde começa o desenvolvimento da personalidade humana, questionava então esta cientista italiana. Havia em Montessori a certeza de que o homem deveria ser educado de forma que pudesse redefinir a sua qualidade de vida e que para isso era necessário cuidar da educação das crianças .
Para entender a proposta educativa de Maria Montessori é necessário entendermos sua história, a história do próprio homem e aquele momento cultural .
Ela inicia seu trabalho numa época em que a psicologia apenas começa a despontar e fundamenta sua proposta de uma prática educativa focada na observação de cada criança .
Durante milhares e milhares de anos acreditava-se que a personalidade humana era “herdada” pelas crianças, de geração em geração e a construção da inteligência humana ; que distingue a raça humana das outras espécies animais tornando-a única sobre a Terra; era ignorada .
Como se forma a inteligência humana, por que processos passa, que leis regem tais processos?
Ora, se todo o universo se sustenta sob leis fixas é impossível que o homem, parte deste universo, não tenha sustentado seu próprio desenvolvimento sobre as mesmas leis.
Poder-se-ia, pois, afirmar que são as leis cósmicas que regem todo o universo as mesmas leis regem o desenvolvimento do homem.
A educação do ponto de vista genérico ,leva em conta as necessidades do homem considerando-o apenas como ser individual, com interesses imediatos para serem satisfeitos, competindo com outros indivíduos.
Poucos são os que se dão conta de que somente quando o progresso está relacionado ao bem estar comum ele se estabelece e se multiplica, mas muitas foram ,certamente, as situações vividas pela humanidade que comprovam tal afirmação.
Montessori declara que o homem precisa tomar consciência de sua própria história, perceber as inter-relações entre os seres, tomar posse do passado, da “sua” história para poder construir o futuro.
Mas para tudo isto não basta lançar um princípio abstrato ou propagar uma convicção , é preciso arregaçar as mangas e por mãos à obra . Construir cada etapa , assentar cada tijolo , tendo em mente a importância do trabalho a realizar.
E foi o que ela fez:
Quando tudo começou havia apenas a pequena “Casa dei Bambini “da vila de San Lorenzo, em Roma e corria o ano de 1907.
Hoje, teorias como as de Piaget,sobre o desenvolvimento da inteligência, de Gardner , sobre as múltiplas inteligências , de Golldman, sobre a inteligência emocional , de Emília Ferreiro , sobre a psicogênese da língua escrita e de outros tantos teóricos, ratificam e as práticas montessorianas. Afinal não fosse Montessori a cientista brilhante que foi com a visão da provisoriedade da verdade científica.
Seu sistema educacional tem como base a observação da criança, a criança de cada momento , de cada país , de cada raça , com suas particularidades , mas sempre a criança que constrói o homem.
E foi esta observação científica da criança que levou Montessori a concluir que durante o seu desenvolvimento até atingir a idade adulta , o ser humano passa por quatro fases distintas que ela denomina de quatro planos da educação . Uma que vai do nascimento aos seis anos, e que compreende uma fase com características particulares até os três anos ; outra que vai dos seis aos doze anos , a seguinte dos doze aos dezoito e por último dos dezoito aos vinte e quatro anos quando o homem se constitui pleno na fase adulta .
Em cada uma destas fases aprendizagens se concretizam, mostrando o ser em desenvolvimento aptidões especiais e temporárias que favorecem as aquisições nestes etapas , as quais Maria Montessori chamou de “períodos sensíveis” e que Gardner mais tarde denominará “janelas de aprendizagem “.
Hoje , espalhadas pelos quatro cantos do mundo, as “Escolas Montessori” se multiplicam.
Em ambientes estruturados, na medida da criança ou do adolescente, concretizando o que Montessori chama de “ajuda à vida “ , ou seja dispor no ambiente educativo o que o aprendiz necessitará para agir seu processo de educação , para que as aprendizagens possam acontecer de forma dinâmica e prazerosa como requer
Cada situação numa classe “Montessori “envolve uma possibilidade de exercício, pois o ambiente preparado instiga o aprendiz nas diferentes áreas .
Tanto pode ser na ecologia pessoal, aprendendo a cuidar de seu corpo, a alimentar-se , educando seus movimentos ou na ecologia ambiental ,aprendendo a zelar pela conservação da ordem e dos diferentes ambientes no espaço escolar ou mesmo na ecologia social, desenvolvendo atitudes e valores como verdadeiros construtores da paz , mas sempre entendendo que o conhecimento está a serviço do bem estar coletivo .
E é o olhar atento do educador montessoriano que perscruta a necessidade do aprendiz , provendo o “alimento” para a sua curiosidade natural , especial em cada etapa , desde a conquista da marcha, da linguagem oral , da escrita , dos valores morais , da independência , da autonomia da cidadania ...
Nestas escolas, o conhecimento acadêmico está diretamente relacionado e à serviço da responsabilidade social , da solidariedade e de outros tantos valores que subsidiam a construção da paz em cada um e em todos .
A educação precisa estar a serviço do homem e este por sua vez precisa entender a necessidade do seu serviço à Humanidade .
Esta é a visão cósmica, o que fundamenta Sistema Montessori de Educação .
Para Maria Montessori não bastava uma escola que apenas cumprisse com sua função acadêmica, ela queria mais: queria uma escola que pudesse “formar o homem completo”, consciente de seu papel na humanidade ,responsável consigo próprio e com os outros , capaz de harmonizar o corpo e o espírito, capaz de criar gerações cada vez mais capazes de buscar o próprio aprimoramento .


“A educação não tem o direito de reduzir a instrução a uma simples graduação para conseguir este ou aquele emprego. Este deve ser encarado apenas como um meio prático de nos inserirmos na sociedade , não se pode encarar tal circunstância como uma finalidade da educação ou estaríamos sacrificando o individuo. “
Da Infância à adolescência ,Ggarzanti 1970

A construção da paz entre os homens é sem dúvida alguma o objetivo maior de todo o Sistema Montessori, num olhar que transcende o hoje e olha para o sempre...Num olhar que percebe a grandiosidade do trabalho do homem neste planeta e de toda a sua História.
Um trabalho que tem seu começo em cada homem , em cada criança .

A Paz para Maria Montessori significado muito maior do que a “calmaria”aparente que surge no pós guerra. No seu discurso em Copenaghen em 1937, Maria Montessori diz :

“A paz é um princípio prático da humanidade e de organização social que se fundamenta na própria natureza do homem. Essa não o submete mas o exalta , não o humilha , mas o faz consciente do próprio poder sobre o universo É assim que se fundamenta a natureza do homem , é um principio único e universal, comum a todos os homens. Este principio deve conduzir a realização da ciência da paz e da educação dos homens para a paz “
Educação e paz ,41, Garzanti 1970