domingo, 27 de abril de 2014

A CRIANÇA DE 18 A 36 MESES , O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E O TRABALHO COM TEXTOS.




AS CARACTERÍSTICAS DA INTELIGÊNCIA DA CRIANÇA DOS 18 AOS 24 MESES , SEGUNDO PIAGET:

Período sensório motor :( 0 a 24 meses )

1-    Exercício dos reflexos
2-    Reações  circulares primárias. Primeiros hábitos
3-    Reações circulares secundárias . Coordenação visão – preensão
4-    Coordenação dos esquemas secundários
5-    Reações  circulares terciárias . Descobrimento  de novos meios  por experimentação ativa
6-    Invenção de novos meios por combinação  mental

Sub período pré – operatório :

Aparecimento da  função semiótica e início das interiorizações dos esquemas de ação e representação ( 2 a 4 anos )

“ Até 18 meses a criança  relaciona-se com  o meio através dos seus sentidos e agindo sobre ele . As trocas são principalmente  materiais e limitadas ‘`a situação atual e a esse lugar. Em torno dessa idade, fins do segundo ano começam a aparecer a linguagem e a representação , ou seja , a possibilidade de usar um significante ao invés de um significado . Isso abre enormes perspectivas e uma nova etapa no desenvolvimento. A primeira é denominada período sensório motor devido às características predominantes, ou seja a atividade sensorial e motora , enquanto que depois encontramos uma fase representativa .
Entre a  idade de 2 e 7 anos a criança reconstrói , pela linguagem seus conhecimentos anteriores. A sua capacidade de atenção , no entanto continua sendo limitada e permanece dominada pelo que se denomina egocentrismo. É a etapa do pensamento intuitivo, ou sub-período pré – operatório no qual a criança se mostra muito apegada aos aspectos externos das situações .”

O INÍCIO DA REPRESENTAÇÃO :

“         A representação não surge de maneira brusca , mas  muito gradualmente , e podem ser encontrados seus sinais desde o início do período sensório – motor, embora  não seja ainda considerada como uma autêntica representação .Os antecedentes dessa capacidade representativa devem ser encontrados nas situações em que a criança , a partir de um aspecto da situação , é capaz de reconhecer outros aspectos  ou o conjunto dela mesma .
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No final do período sensório motor é que começam a aparecer significantes que se diferenciam dos significados , que são independentes dos mesmos . Assim surgem os símbolos motores que são produzidos por imitação , como por exemplo uma criança que abre a boca para representar a abertura de uma gaveta , ou de uma caixa de fósforos .


TIPOS DE SIGNIFICANTES

Nem todos os significantes são do mesmo tipo e, por isso, podem se classificados conforme o grau de conexão entre significante e significado . de acordo com esta relação é possível distinguir três tipos de significantes.

-        quando o significante  e o significado não estão diferenciados  , falamos de índices ou de sinais  – por exemplo fumaça é sinal de fogo, barulho de motor de carro significa que á um carro próximo .
-        quando o significante se diferencia do significado, mas guarda uma conexão com ele , fala-se de símbolos  - por exemplo quando uma criança usa um pedaço de pau para fazer de cavalinho , o ato de montar remete-a ao qual faz com o cavalo , um desenho de uma casa simbolizando uma casa .

-        quando os significantes se distanciam totalmente dos significado , falamos de signos , como por exemplo, as palavras ou os sinais matemáticos ( que deveriam ser denominados signos matemáticos ) pois entre uma somo e um + não existe nenhuma conexão .

Podemos comprovar pois a importância do trabalho a ser realizado   desde a classe dos pequeninos , remetendo-os através de estímulos adequados ao aprendizado dos signos o que culminará com o aprendizado da linguagem dos signos – a escrita e a leitura .

AS MANIFESTAÇÕES DA FUNÇÃO SEMIÓTICA :

O que aparece no final do período sensório motor é , então , essa possibilidade de usar significantes  diferenciados ao invés de significados e as manifestações dessa capacidade  que recebe o nome de função semiótica ou simbólica , são diversos tipos de condutas que são aparentemente bastante diferentes , mas que possuem em comum a utilização de algo para designar outra. Essas manifestações são a imitação diferida , o jogo simbólico , o desenho , as imagens mentais e a linguagem.

A IMITAÇÃO :

Ë muito precoce no período sensório motor  e o bebê é capaz de reproduzir prontamente  movimentos que vê nos outros , seja com as mãos , as pernas ou a boca . Mas  essa imitação é realizada sempre na presença do modelo  ao qual está imitando e não há imitação de modelos ausentes .
No final do período sensório motor  começa a aparecer um tipo de imitação que acontece na ausência do modelo , a que denominamos imitação diferida. A criança é capaz de reproduzir algo que viu algumas horas antes, ou dias antes – é pois uma forma de representação diferenciada.

O JOGO SIMBÓLICO :

Constitui-se  numa forma de de representação que guarda íntima relação com a imitação. A criança  está reproduzindo situações que viu , mas reproduz adaptando-as aos seus desejos. Deixa de ser o filho para ser o pai, deixa de ser o paciente para ser o módico , deixa de ser o aluno para ser a professora .Assim  cria situações que consegue controlar e nas quais não é controlada .
Em seguida , ainda no final  do período sensório motora criança começa a utilização de símbolos no jogo, representando assim a realidade , de acordo com as necessidades do sujeito. Esse tipo de jogo permite , então uma manipulação simbólica da realidade , que seria impossível realizar de forma prática .

O DESENHO

O desenho é outra forma de representação da realidade que divide com  o jogo o prazer que sua realização provoca .
Parece que a criança sempre  pretende fazer um desenho realista , mas o que reproduz na realidade é mais o que ela sabe  do que ela vê . Isso explica as etapa do desenho do desenho infantil e que estão intimamente ligadas às etapas pelas quis a criança passa na sua compreensão da realidade .
Podemos ainda considerar  no desenho da crianças  (Luquet,1927 ) etapas distintas :

1-    realismo fortuito , que geralmente implica no descobrimento do significado do desenho durante a sua realização. Enquanto a criança  se entrega  ao prazer  funcional de desenhar, descobre , de repente , uma semelhança entre o seu desenho e algum objeto e assim o manifesta atribuindo-lhe essa significação .

2-    O realismo frustrado , quando a criança ainda não é capaz de organizar os elementos do modelo em uma unidade , colocando-os da forma que pode. Dentro dessa etapa deveriam ser incluídos os desenhos cabeçudos, primeira etapa da representação da figura humana , na qual aparece uma cabeça da qual saem diretamente  uns tipos de fios que representam as extremidades.

3-    O realismo intelectual , que caracteriza-se pela representação dos traços essenciais do objeto sem que haja uma consideração da perspectiva , de tal modo que se é desenhada uma pessoa de perfil , aparecem os dois olhos, ou numa plantação de batatas ela aparecem debaixo da terra .


4-    O realismo visual , que começa  em torno dos 8 ou 9 anos , a criança começa a representar somente o que vê a partir de um ponto de vista determinado , atendo-se o máximo às relações das coisas .

 
AS IMAGENS MENTAIS :

Estas não são simplesmente as marcas deixadas  pela  percepção , mas se constituem numa forma de imitação que não é exteriorizada , ou seja uma imitação interiorizada . A imagem não é  simplesmente uma cópia da realidade , mas representa também um esforço de assimilação e de elaboração da realidade .

 A LINGUAGEM

Representa a última manifestação dessa função semiótica e forma o sistema de representação mais complexo . A Linguagem aparece , no início , subordinada às situações e  posteriormente , vai se tornando independente , cada vez , mais independente.
Sua importância exige que lhe seja dada especial atenção no desenvolvimento da criança .

Ao longo do período sensório motor produzem-se muitos progressos cognitivos que constituirão a fundamentação do desenvolvimento da capacidade lingüística posterior, são os pré requisitos para a aquisição da linguagem .A partir do momento em que a linguagem aparece influi  sobre as aquisições cognitivas.

A  aquisição da linguagem não é  um fenômeno único. Ela apresenta uma diversidade de facetas profundamente relacionadas entre si, com relações muito intrincadas .
Antes da criança aprender a falar , ou seja a pronunciar suas primeiras palavras é o que entendemos geralmente por aprender a falar , ela já percorreu um longo caminho preparatório para  a aquisição da linguagem. Um caminho que consistiu não somente na aquisição dos sons, mas também em outros aspectos menos aparentes .
É conveniente lembrar que a linguagem é muito mais do que somente as palavras e, inclusive , do que as relações entre as palavras. A linguagem tem função comunicativa. Desde o nascimento a criança manifesta sua situação através de diferentes procedimentos , que incluem os gritos, os choros , usados para atrair a atenção do adulto, principalmente quando está descontente .
Os primeiros aspectos da utilização da linguagem parecem ser bastante determinados por fatores do tipo biológico inato – que resultam no aprendizado da linguagem a qual está exposta ..
As primeiras palavras que a criança emite não designam necessariamente  , de imediato , conceitos ou objetos . Sua fala resulta da aprendizagem de combinar os sons e da imitação da fala do adulto , sem que  capte o aspecto da situação que a palavra designa .
Por um lado as criança generalizam o significado de uma palavra para fazer referência a muitos objetos aos quais não é aplicada habitualmente – como por exemplo “ ola “ para nomear uma bola , um biscoito de forma arredondada , marcas redondas  etc . A criança capta uma característica comum entre estes objetos e  isto a leva a generalizar .
Durante longo tempo a criança irá considerar que as palavras são uma propriedade das coisas . Não há diferenciação entre o significante e o significado , e a criança não aprendeu o caráter arbitrário  das palavras .
As primeiras palavras  utilizadas pelas criança  designam muito mais do que objetos . Designam intenções , desejos , pedidos , relações ..
Posteriormente a criança vai expressando por meio das combinações de palavras  um conhecimento cada vez maior sobre o mundo que a cerca ao mesmo tempo que progride seu desenvolvimento psicológico geral e sua capacidade lingüística  não somente se manifesta na  aprendizagem de  um número cada vez maior de frases , mas principalmente na capacidade de produção de novas frases que nunca ouviu anteriormente . Assim, aos poucos a criança vai descobrindo as regras que regem a linguagem , as regras relativas ao singular e ao plural , ao masculino e ao feminino , às conjugações dos verbos e às combinações de palavras , assim como à ordem em que esta devem ser apresentadas .


Bibliografia :

Denval, Juan – Crescer e Pensar , A construção do conhecimento na Escola – Editora Artes Médicas, tradução de Beatriz Afonso Neves , Porto Alegre 1998

Montessori , Maria – La Mente  del Bambino , Garzanti ,Milão 1952.

Vita dell’ Infanzia – Opera Nazionalle Montessori ,Roma

Kaufman,Ana Maria – A leitura , a escrita e a escola .Artes Médicas, 1994



Trabalhando  com textos numa classe   de Nido
( crianças de 18 a 36 meses )

I - A escolha do texto :
 É necessário considerar que nesta idade as crianças estão ampliando seu conhecimento do mundo e que a percepção do que é real e do que é imaginário ainda não está estabelecida .

Acreditamos que histórias baseadas na vida real sejam as mais indicadas para esta faixa etária , enriquecendo o universo infantil com situações da realidade próxima e da realidade distante , mas sempre as  da realidade .

É preciso ter muito cuidado com os textos que envolvam o imaginário , para que o limiar entre realidade e fantasia sejam adequadamente estabelecidos .

Escolhemos para trabalhar com as turmas deste segmento no primeiro segundo bimestre maio , junho e julho  , os contos  da vida real .

II  - Das características do texto:
 Os contos da vida real retratam situações do cotidiano que poderiam acontecer com qualquer pessoa .
Não há seres “ imaginários “ , bichinhos que falam , bruxas ou fadas ...
É preciso esperar mais um pouquinho para apresentar este tipo de literatura para a criança , pois somente quando for capaz de usar significados pode  começar a compreender tais histórias .
A estrutura de um conto  sempre inicia com a caracterização do  local onde a trama se desenrola ,ou do personagem que vai desencadear a ação .
Ë importante observar a fala dos personagens , os adjetivos utilizados para descrever os personagens e o lugar onde desenrola-se a trama , levando o leitor a construir imagens mentais do que é narrado .
Na trama existe o momento em que o elemento desnormalizador aparece , em seguida a busca da solução e como clímax o caso solucionado .
O tempo verbal utilizado pelo autor reforça a idéia do tempo em que se desenrola a ação .

III – Desenvolvendo o trabalho com as crianças :
Como nossa criança está entre o período sensório motor e o sub-período pré operatório, construindo a relação entre significantes e significado ,e desenvolvendo a aquisição da linguagem , atividades que envolvam ação , representação  são muito recomendáveis . Um canto de dramatização precisa ser criado em cada sala para permitir que a criança imite  e represente as diferentes situações da história

a)    O Orientador de classe “toma posse do texto “ .
-        tendo escolhido o texto é necessário analisá-lo para levantar todas as possibilidades que oferece .
-        ler a história com atenção , observar se alguma palavra precisa ser explicada à criança
-        “treinar a leitura “ se necessário para poder fazê-lo com desembaraço .

b)    Desenvolvendo o projeto :

Atividades em pequenos grupos:

Dia 1 _ Contando a história :
-        Ler o texto para as crianças .
Ler mesmo para não se perder inventando nesta etapa um novo texto que não  preserve as qualidades  do texto escrito pelo autor escolhido. Mostrar as ilustrações entre uma página e outra  a medida que lê para que  a criança possa acompanhar com as imagens a trama narrada.

Dia 2- Mostrar novamente o livro e conversar com as crianças  sobre os personagens:

-      Fazer o levantamento dos personagens, registrando num blocão , poderá ser combinado com as crianças  que a Orientadora de Classe escreverá o nome e eles desenharão, ou será o personagem xerocado do livro e colado na folha do Blocão , ou o que combinarem
-        Escrever o nome dos personagens       
-      Fazer com as crianças uma “LISTA “ ( cada criança escreve na sua folha , do seu jeito  a relação dos personagens da história  , os nomes podem   ser ditos pela criança ou evocados pela orientadora )
 Dia 3 -
-        Fazer os personagens  da história com massinha
-        Fazer o objetos da história com  massinha

Dia 4
-        Montar um “banco de palavras “com as palavras que aparecem na história
-     Pesquisar em revista objetos que apareçam na história , retirar e colar no blocão
ou selecionar para fazer livro .
 - Fazer com as crianças  uma “LISTA “( vide orientação no ítem relativo aos personagens )
 Acompanhando esta etapa o Orientador deve incorporar aos ditados mudos o vocabulário significativo da história., classificando-o nas caixinhas adequadas e criando as caixinhas que forem necessárias para cada nova classificação .

Dia 5
-        Conversar novamente sobre a história , mostrando as gravuras do livro.
-        Fazer o reconto da história – as crianças contam a história e a Orientadora de Classe escreve no blocão como elas contam , sem fazer interferências  .

Dia 6
-        Reler o reconto para completar .
-        Fazer no texto as correções necessárias , passar a limpo e deixar exposto .

Dia  7:
-   Xerocar as gravuras significativas do livro e montar o livro  com o reconto das crianças .

c)    Atividades paralelas :
-        Confeccionar cartões de ditado mudo com objetos que aparecem na história
-        Confeccionar cestas de reconhecimento com objetos que aparecem na história
-        Fazer livros montessorianos com objetos que aparecem na história, a capa pode reportar à história lida .
-        Fazer dramatização , onde cada criança escolhe o personagem que quer ser e faz “uma coisa “ como este personagem .
-        Procurar músicas e brincadeiras  que tenham afinidade com o texto escolhido para enriquecer o trabalho.
-        Fazer o registro das  “ palavras que aprendemos “ no Blocão , com gravuras pesquisadas pelas crianças .

Nota:

Este projeto é de curta duração ,deve ser desenvolvido em até três semanas l . 

Ao terminar o primeiro ,  selecionar outro livro , de acordo com a preferência do grupo e desenvolver as etapas orientadas , tendo em vista proporcionar atividades que favoreçam e atuem com estímulo ao desenvolvimento da linguagem ,à construção do conhecimento e respeitem as etapas do desenvolvimento da inteligência e o ritmo de cada criança em particular ,.