Tim Seldin é presidente da “The Montessori Foundation” e co-autor de
“Celebrations of Life” e “The
World in The Palm of Her Hand” , é dele o texto abaixo que pode ajudar cada
família na organização da casa para as suas crianças.
Nosso papel como pais.
A vida interior da criança
Maria Montessori nos ensinou a ver cada criança como
um ser único; um embrião espiritual vivo, com possibilidades e pronto para
crescer espiritual, moral e psicologicamente.
Ela escreveu:
“Os seres humanos são lentamente formados.
Cada um de nós é “feito à mão”, e cada indivíduo é diferente de todos os
outros, com seu espírito característico como se fosse uma obra de arte natural.
Criada por um processo que leva muitos anos.
A vida interior da criança
é um enigma. Só o que sabemos sobre a criança é que poderá ser qualquer coisa,
mas ninguém sabe o que será ou o que fará.
O desenvolvimento humano é
exatamente como o processo necessário para produzir uma obra de arte, que o
artista, isolado na intimidade do seu atelier, modifica e transforma antes de
levá-la a público. O processo pelo qual a personalidade humana é formada está
na obra oculta da sua auto-construção.”
Montessori entendia que a criança era um embrião
espiritual , cujo processo de desenvolvimento
deveria acabar por permitir que fosse capaz de agir independentemente no
mundo.
Assim
como o embrião humano antes do nascimento, esse embrião espiritual, que é a
jovem criança, deve ser protegido de ambientes hostis através do calor do nosso
amor e acolhimento.
As crianças aprendem com seus
erros.
Os
adultos com freqüência presumem, equivocadamente, que as crianças desenvolvem
seu caráter apenas através dos cuidados e da educação que recebem em casa, ou
seja da “criação”. Acreditamos que podemos moldar a personalidade e o destino
de uma criança através de aconselhamento correto e tentativas de guiar seu
desenvolvimento.
As crianças trazem consigo a chave para o seu próprio
desenvolvimento. Suas primeiras tentativas para expressar sua individualidade
são hesitantes e experimentais.
Nossas crianças pensam que tudo
sabemos e tudo podemos. Essas tentativas são facilmente esmagadas pelas nossas
melhores intenções.
Nossos esforços para proteger nossas crianças de erros
que parecem tão óbvios, do nosso ponto de vista, tendem a frustrar o seu
processo de auto-aprendizado sobre a vida.
Precisamos aprender a identificar e respeitar os
esforços que a criança faz para desenvolver uma personalidade
independente, porque através desse processo criativo ela literalmente “molda” o
futuro adulto.
Como pais, é nossa obrigação tentar entender as
necessidades psicológicas de nossos filhos e preparar em nossas casas um
ambiente favorável para eles, afinal esta é a função inerente aos adultos em
cada espécie.
Montessori sentiu que muitas vezes os pais, embora
agissem com as melhores intenções, tendiam a atrapalhar e frustrar o processo
de crescimento dos filhos .
O papel principal dos pais é ajudar a criança a
amadurecer independente e responsável. Com freqüência, compreendemos mal o que
podemos fazer e o que não devemos fazer para realmente facilitar o processo de
desenvolvimento natural da criança. Temos tendência a superproteger, não
compreendendo que nossos filhos somente podem aprender sobre a vida através da
tentativa e do erro, assim como nós aprendemos.
Nosso papel como pais é ajudar nossos filhos a
aprender a viver em paz e harmonia com as pessoas e com o ambiente.
Trabalhamos para criar um lar em que eles possam
aprender a agir como pessoas independentes, responsáveis, “pensantes”.
Para sermos realmente bem-sucedidos no nosso papel de
pais, precisamos tratar nossos filhos com tremendo respeito, como plenos e
completos seres humanos que por acaso estão sob nossos cuidados. Eles precisam
sentir que podem livremente ser quem e o quê são.
Ser livremente o que é ,não inclui deixarmos nosso
filhos à sua própria sorte , é preciso cuidá-los.
Precisamos realmente deixá-los sentir o nosso
respeito; falar simplesmente não é suficiente. Se eles acreditarem que não
estão vivendo à altura das nossas expectativas, que estamos desapontados com as
pessoas que estão se tornando, eles poderão ficar emocionalmente marcados por
toda a vida.
Uma criança que não se sente aceita pelos seus pais
pode somente vagar pela vida olhando-a de fora como um estranho.
Os pais ensinam valores aos filhos
Um de nossos objetivos fundamentais como pais é
inspirar os corações de nossos filhos. Nós não somente compartilhamos com eles
as nossas crianças, mas também ensinamos nossos valores, ética e o sentido do
que é realmente importante e maravilhoso: amor, cordialidade e confiança na
bondade fundamental da vida. De maneiras simples, encorajamos nossos filhos a
iniciar a jornada para estarem plenamente vivos e serem plenamente humanos.
Tudo que fazemos visa cultivar neles um sentido de alegria e apreço pela vida,
um sentido poético, e construir a compreensão
da inter-relação da espécie humana com o universo.
Conscientemente ou não, ensinamos nossos valores às
nossas crianças. Compartilhamos confiantemente o objetivo de ensiná-las a
compreender e respeitar as reais diferenças entre diferentes culturas, pois
embora sejamos todos iguais por dentro, somos muito diferentes uns dos outros
nas maneiras como vivemos nossas vidas e percebemos o mundo. Para construir um
mundo melhor, devemos aprender a ver as pessoas como elas realmente são . Não
temer o que nos é estranho e difere amplamente dos nossos costumes. Assim como
as crianças podem aprender a odiar, elas podem aprender a amar com seus pais.
Para poder viver feliz quando adulto, a criança
precisa de duas coisas: um forte sentido de sua identidade à parte da de seus
pais, e um sentido de sua plena participação não somente na família, mas também
na comunidade em que vive. Nossa obrigação moral é facilitar-lhe a transição da
infância à maturidade e ensinar-lhe os conhecimentos necessários para ser
bem-sucedida na escola, na universidade, no local de trabalho, e no momento
cultural em que vive. Esta é a nossa missão como mães e pais.
Acredito que devemos mostrar às nossas crianças uma
imagem verdadeira do mundo, de acordo com a sua crescente capacidade de
compreensão.
Elas não devem nunca estar inseguras ou confusas sobre
o que apoiamos. Embora, naturalmente, elas aprendam mais com aquilo que fazemos
do que com o que falamos. Nossas ações devem ser consistentes com os nossos
valores.
Para que as crianças cresçam emocional e moralmente
completas, elas devem ser capazes de entender e confiar nos adultos importantes
em suas vidas .
Para que possam
aprender a pensar e julgar por conta própria elas mas elas começam tendo
a nós como seu exemplo.
Estabelecendo um clima de amor
As crianças são extremamente sensíveis ao clima
emocional dentro da família. Elas nos amam e basicamente querem que estejamos
satisfeitos com elas. Isto não significa que sempre se portarão bem. Toda
criança testará as regras e irá se comportar mal até certo ponto. De fato,
muitos atos de mau comportamento são parte normal do seu processo de
crescimento.
O mau comportamento das crianças é
geralmente sua forma de expressar sentimentos que não entendem, e de nossas respostas
elas gradualmente aprendem como lidar apropriadamente com suas emoções.
Testando os limites, aprendem que realmente nos importamos com certas regras
básicas de virtude e cortesia em nosso relacionamento. Com esse comportamento,
elas dão seus primeiros passos experimentais na direção à independência,
tentando demonstrar que nós não as controlamos completamente.
Entrem em acordo sobre as regras básicas de sua
família e coloquem-nas por escrito onde os pais possam consultá-las. Ensinem
seus filhos como fazer o que é certo em vez de se concentrarem nas suas
transgressões. Sejam consistentes!
Se vocês não estiverem dispostos a reforçar uma regra inúmeras vezes, então
esta não deverá ser uma regra básica em sua casa.
É preferível ter algumas poucas mas boas regras do que
dúzias de regrinhas que ninguém se lembra.
Em minha casa há somente umas poucas regras básicas:
seja cordial e gentil e trate com respeito todas as formas de vida; não
choramingue; fale a verdade e não tenha medo de admitir que você errou, apenas
faça o melhor que puder para aprender com o erro; se quebrar algo, limpe.
Nunca me impressionei com o uso de ameaças e castigos
para obrigar as crianças a se comportarem. De acordo com a minha experiência,
as crianças que reagem a ameaças e ficam abaladas com castigos estão ansiosas
para agradar-nos e reconquistar nosso amor. Por outro lado, quando as crianças
estão zangadas ou reivindicando sua independência, elas geralmente não ligam se
são castigadas.
Castigos e ameaças dão às crianças uma escolha que eu
não creio que deva ser dada. Estamos efetivamente dizendo: “Você pode decidir
se prefere seguir as regras da nossa família ou aceitar as conseqüências. De
qualquer forma, para mim dá no mesmo. Para mim tanto faz ralhar e punir você,
ou fazer com que siga as regras básicas da família”.Castigos simplesmente não
são tão eficazes como presumimos.
Em casa, assim como na escola, tento me concentrar em
ensinar as crianças a fazer as coisas corretamente, enfatizando o positivo em
vez de usar insultos e irritação. Não vou enganá-los: nem sempre é fácil. Acima
de tudo, tento nunca fazer perguntas estúpidas aos meus filhos, tais como
“Quantas vezes tenho que lhe dizer…?”, para a qual a resposta apropriada é “Eu
não sei, pai. Quantas vezes você tem que me dizer?”. Faça uma pergunta boba e
terá uma resposta boba.
Criando uma atmosfera de amor
As crianças são realmente tão sensíveis e
impressionáveis que seria ideal se controlássemos tudo que dizemos e fazemos,
porque tudo está gravado em suas memórias.
Nossos filhos nos amam com profunda afeição. Quando
vão para a cama eles querem que fiquemos com eles enquanto adormecem. Quando
trabalhamos na cozinha, eles freqüentemente querem ajudar. Quando sentamos para
jantar, querem se juntar a nós. Poderíamos nos preocupar achando que os
estragamos quando ouvimos seus apelos, mas não deveríamos. Eles só querem que
lhes demos atenção. Eles querem ser
parte do grupo. Montessori escreveu:
“Quem mais choraria por desejar intensamente estar conosco enquanto
comemos? E com quanta tristeza diremos um dia “agora ninguém chora para me ter
por perto enquanto adormece”. Somente uma criança diz todas as noites “não me
deixe; fique comigo”, e o adulto responde “Eu não posso, tenho muito o que
fazer, e que besteira é essa?”E acha que a criança tem de ser corrigida ou
transformará todos em escravos do seu amor”.
Às vezes a criança acorda pela manhã e vai acordar seus pais, que
prefeririam dormir; todos reclamam deste tipo de coisa. Ela sai de mansinho da
sua cama, aproxima-se dos seus pais e toca-os suavemente. Na maioria das vezes
eles dizem “Não me acorde pela manhã”, e a criança responde. “Eu não acordei
vocês; eu só beijei vocês!”