sexta-feira, 25 de maio de 2012

ABRINDO ESPAÇO PARA AS CRIANÇAS EM SUA VIDA




 Tim Seldin é presidente da “The Montessori Foundation” e co-autor de “Celebrations of Lifee “The World in The Palm of Her Hand” , é dele o texto abaixo que pode ajudar cada família na organização da casa para as suas crianças.


Nosso papel como pais.

A vida interior da criança

Maria Montessori nos ensinou a ver cada criança como um ser único; um embrião espiritual vivo, com possibilidades e pronto para crescer espiritual, moral e psicologicamente.

Ela escreveu:

 “Os seres humanos são lentamente formados. Cada um de nós é “feito à mão”, e cada indivíduo é diferente de todos os outros, com seu espírito característico como se fosse uma obra de arte natural. Criada por um processo que leva muitos anos.

A vida interior da criança é um enigma. Só o que sabemos sobre a criança é que poderá ser qualquer coisa, mas ninguém sabe o que será ou o que fará.

O desenvolvimento humano é exatamente como o processo necessário para produzir uma obra de arte, que o artista, isolado na intimidade do seu atelier, modifica e transforma antes de levá-la a público. O processo pelo qual a personalidade humana é formada está na obra oculta da sua auto-construção.”

Montessori entendia que a criança era um embrião espiritual , cujo processo de desenvolvimento  deveria acabar por permitir que fosse capaz de agir independentemente no mundo.

            Assim como o embrião humano antes do nascimento, esse embrião espiritual, que é a jovem criança, deve ser protegido de ambientes hostis através do calor do nosso amor e acolhimento.

As crianças aprendem com seus erros.

Os adultos com freqüência presumem, equivocadamente, que as crianças desenvolvem seu caráter apenas através dos cuidados e da educação que recebem em casa, ou seja da “criação”. Acreditamos que podemos moldar a personalidade e o destino de uma criança através de aconselhamento correto e tentativas de guiar seu desenvolvimento.

As crianças trazem consigo a chave para o seu próprio desenvolvimento. Suas primeiras tentativas para expressar sua individualidade são hesitantes e experimentais.

Nossas crianças pensam que tudo sabemos e tudo podemos. Essas tentativas são facilmente esmagadas pelas nossas melhores intenções.

Nossos esforços para proteger nossas crianças de erros que parecem tão óbvios, do nosso ponto de vista, tendem a frustrar o seu processo de auto-aprendizado sobre a vida.

Precisamos aprender a identificar e respeitar os esforços que a  criança faz  para desenvolver uma personalidade independente, porque através desse processo criativo ela literalmente “molda” o futuro adulto.

Como pais, é nossa obrigação tentar entender as necessidades psicológicas de nossos filhos e preparar em nossas casas um ambiente favorável para eles, afinal esta é a função inerente aos adultos em cada espécie.

Montessori sentiu que muitas vezes os pais, embora agissem com as melhores intenções, tendiam a atrapalhar e frustrar o processo de crescimento  dos filhos .

O papel principal dos pais é ajudar a criança a amadurecer independente e responsável. Com freqüência, compreendemos mal o que podemos fazer e o que não devemos fazer para realmente facilitar o processo de desenvolvimento natural da criança. Temos tendência a superproteger, não compreendendo que nossos filhos somente podem aprender sobre a vida através da tentativa e do erro, assim como nós aprendemos.

Nosso papel como pais é ajudar nossos filhos a aprender a viver em paz e harmonia com as pessoas e com o ambiente.

Trabalhamos para criar um lar em que eles possam aprender a agir como pessoas independentes, responsáveis, “pensantes”.

Para sermos realmente bem-sucedidos no nosso papel de pais, precisamos tratar nossos filhos com tremendo respeito, como plenos e completos seres humanos que por acaso estão sob nossos cuidados. Eles precisam sentir que podem livremente ser quem e o quê são.

Ser livremente o que é ,não inclui deixarmos nosso filhos à sua própria sorte , é preciso cuidá-los.

Precisamos realmente deixá-los sentir o nosso respeito; falar simplesmente não é suficiente. Se eles acreditarem que não estão vivendo à altura das nossas expectativas, que estamos desapontados com as pessoas que estão se tornando, eles poderão ficar emocionalmente marcados por toda a vida.

Uma criança que não se sente aceita pelos seus pais pode somente vagar pela vida olhando-a de fora como um estranho.



Os pais ensinam valores aos filhos


Um de nossos objetivos fundamentais como pais é inspirar os corações de nossos filhos. Nós não somente compartilhamos com eles as nossas crianças, mas também ensinamos nossos valores, ética e o sentido do que é realmente importante e maravilhoso: amor, cordialidade e confiança na bondade fundamental da vida. De maneiras simples, encorajamos nossos filhos a iniciar a jornada para estarem plenamente vivos e serem plenamente humanos. Tudo que fazemos visa cultivar neles um sentido de alegria e apreço pela vida, um sentido poético, e construir a compreensão  da inter-relação da espécie humana com o universo.

Conscientemente ou não, ensinamos nossos valores às nossas crianças. Compartilhamos confiantemente o objetivo de ensiná-las a compreender e respeitar as reais diferenças entre diferentes culturas, pois embora sejamos todos iguais por dentro, somos muito diferentes uns dos outros nas maneiras como vivemos nossas vidas e percebemos o mundo. Para construir um mundo melhor, devemos aprender a ver as pessoas como elas realmente são . Não temer o que nos é estranho e difere amplamente dos nossos costumes. Assim como as crianças podem aprender a odiar, elas podem aprender a amar com seus pais.

Para poder viver feliz quando adulto, a criança precisa de duas coisas: um forte sentido de sua identidade à parte da de seus pais, e um sentido de sua plena participação não somente na família, mas também na comunidade em que vive. Nossa obrigação moral é facilitar-lhe a transição da infância à maturidade e ensinar-lhe os conhecimentos necessários para ser bem-sucedida na escola, na universidade, no local de trabalho, e no momento cultural em que vive. Esta é a nossa missão como mães e pais.

Acredito que devemos mostrar às nossas crianças uma imagem verdadeira do mundo, de acordo com a sua crescente capacidade de compreensão.

Elas não devem nunca estar inseguras ou confusas sobre o que apoiamos. Embora, naturalmente, elas aprendam mais com aquilo que fazemos do que com o que falamos. Nossas ações devem ser consistentes com os nossos valores.

Para que as crianças cresçam emocional e moralmente completas, elas devem ser capazes de entender e confiar nos adultos importantes em suas vidas .

Para que possam  aprender a pensar e julgar por conta própria elas mas elas começam tendo a nós  como seu exemplo.



Estabelecendo um clima de amor



As crianças são extremamente sensíveis ao clima emocional dentro da família. Elas nos amam e basicamente querem que estejamos satisfeitos com elas. Isto não significa que sempre se portarão bem. Toda criança testará as regras e irá se comportar mal até certo ponto. De fato, muitos atos de mau comportamento são parte normal do seu processo de crescimento.

            O mau comportamento das crianças é geralmente sua forma de expressar sentimentos que não entendem, e de nossas respostas elas gradualmente aprendem como lidar apropriadamente com suas emoções. Testando os limites, aprendem que realmente nos importamos com certas regras básicas de virtude e cortesia em nosso relacionamento. Com esse comportamento, elas dão seus primeiros passos experimentais na direção à independência, tentando demonstrar que nós não as controlamos completamente.

Entrem em acordo sobre as regras básicas de sua família e coloquem-nas por escrito onde os pais possam consultá-las. Ensinem seus filhos como fazer o que é certo em vez de se concentrarem nas suas transgressões. Sejam consistentes! Se vocês não estiverem dispostos a reforçar uma regra inúmeras vezes, então esta não deverá ser uma regra básica em sua casa.

É preferível ter algumas poucas mas boas regras do que dúzias de regrinhas que ninguém se lembra.

Em minha casa há somente umas poucas regras básicas: seja cordial e gentil e trate com respeito todas as formas de vida; não choramingue; fale a verdade e não tenha medo de admitir que você errou, apenas faça o melhor que puder para aprender com o erro; se quebrar algo, limpe.

Nunca me impressionei com o uso de ameaças e castigos para obrigar as crianças a se comportarem. De acordo com a minha experiência, as crianças que reagem a ameaças e ficam abaladas com castigos estão ansiosas para agradar-nos e reconquistar nosso amor. Por outro lado, quando as crianças estão zangadas ou reivindicando sua independência, elas geralmente não ligam se são castigadas.

Castigos e ameaças dão às crianças uma escolha que eu não creio que deva ser dada. Estamos efetivamente dizendo: “Você pode decidir se prefere seguir as regras da nossa família ou aceitar as conseqüências. De qualquer forma, para mim dá no mesmo. Para mim tanto faz ralhar e punir você, ou fazer com que siga as regras básicas da família”.Castigos simplesmente não são tão eficazes como presumimos.

Em casa, assim como na escola, tento me concentrar em ensinar as crianças a fazer as coisas corretamente, enfatizando o positivo em vez de usar insultos e irritação. Não vou enganá-los: nem sempre é fácil. Acima de tudo, tento nunca fazer perguntas estúpidas aos meus filhos, tais como “Quantas vezes tenho que lhe dizer…?”, para a qual a resposta apropriada é “Eu não sei, pai. Quantas vezes você tem que me dizer?”. Faça uma pergunta boba e terá uma resposta boba.



Criando uma atmosfera de amor


As crianças são realmente tão sensíveis e impressionáveis que seria ideal se controlássemos tudo que dizemos e fazemos, porque tudo está gravado em suas memórias.

Nossos filhos nos amam com profunda afeição. Quando vão para a cama eles querem que fiquemos com eles enquanto adormecem. Quando trabalhamos na cozinha, eles freqüentemente querem ajudar. Quando sentamos para jantar, querem se juntar a nós. Poderíamos nos preocupar achando que os estragamos quando ouvimos seus apelos, mas não deveríamos. Eles só querem que lhes demos atenção. Eles querem ser parte do grupo. Montessori escreveu:



“Quem mais choraria por desejar intensamente estar conosco enquanto comemos? E com quanta tristeza diremos um dia “agora ninguém chora para me ter por perto enquanto adormece”. Somente uma criança diz todas as noites “não me deixe; fique comigo”, e o adulto responde “Eu não posso, tenho muito o que fazer, e que besteira é essa?”E acha que a criança tem de ser corrigida ou transformará todos em escravos do seu amor”.

Às vezes a criança acorda pela manhã e vai acordar seus pais, que prefeririam dormir; todos reclamam deste tipo de coisa. Ela sai de mansinho da sua cama, aproxima-se dos seus pais e toca-os suavemente. Na maioria das vezes eles dizem “Não me acorde pela manhã”, e a criança responde. “Eu não acordei vocês; eu só beijei vocês!”

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Liberdade é a melhor escola de disciplina !

Liberdade é a melhor escola de disciplina !
Artigo de Maria Montessori publicado no jornal The San Francisco Call & Post, em 25 /8/1915 Tradução livre para estudo por Marcia Righetti

O que significa disciplina ?

Tal conceito de disciplina não é fácil, nem de compreender-se nem de se obter, mas por certo contem um outro principio educativo, bem diverso da coerção absoluta e indiscutível e da imobilidade . É necessário que a professora tenha uma técnica especial para conduzir o menino sobre tal via de disciplina , na qual ele depois deverá caminhar durante toda a vida avançando indefinidamente para o aperfeiçoamento . Como a criança tem o impulso natural para mover-se ,prepara-se não para a escola , mas para a vida, desenvolvendo um indivíduo correto nas atitudes , pelas praticas que envolvem também as manifestações sociais, assim a criança se habitua a uma disciplina não limitada ao ambiente da escola mas a própria sociedade. A liberdade da criança deve ter como limite o interesse coletivo: como forma do que chamamos educação das maneiras ( boas maneiras) no relacionamento com os outros. Devemos impedir ao menino tudo quanto pode ofender ou prejudicar o outro ,aquilo que tem significado de ato indecoroso ou grosseiro. Mas todo o resto, cada manifestação advinda de uma intenção útil , qualquer que seja e de qualquer forma explicada, deve ser não só permitida mas deve ser observada pela professora : este é o ponto essencial! Da preparação cientifica da professora vai resultar o que vai conquistar além da capacidade para realizar sua tarefa o interesse como um observador dos fenômenos naturais .

Professores pacientes

A professora , em nosso sistema deverá ser paciente, muito mais que em constante atividade , a sua paciência será composta de ansiosa curiosidade cientifica e de respeito absoluto aos fenômenos que vai observar. É necessário que a professora entenda e sinta a sua posição de observadora . Na atividade deve estar o fenômeno . A ação do professor não deve então somente permitir, mas realmente incentivar, todas as expressões de impulsionadas pelos aspectos positivos , não obstante a natureza ou a forma. É essencial que o professor seja paciente, isto é melhor que todas as técnicas pedagógicas., deve ter competência cientifica para realizar uma observação, e deve ser sensível o bastante para apreciar as várias manifestações da inteligência curiosa da criança. Nenhuma expressão espontânea desta inteligência curiosa deve ser sufocada. É difícil estimar o dano que pode resultar desta prática à criança pessoalmente, e mais difícil de estimar a perda no avanço da raça humana. Algum dos sentimentos mais refinados , das idéias as mais brilhantes, e do estímulos de personalidades originais deixam de se expressar , porque todo o ímpeto para a expressão original foi sufocado com a correção e a crítica precoce . Expressões que parecem erradas podem estar corretas , mas é preciso saber diferenciá-las . O professor que usa meu método não deve somente refrear a expressão pessoal da criança, ou impor uma forma convencional, prescrita da conduta, exceto quando esta é prejudicial à criança ou a outro. Em minha primeira escola em Roma, eu observei, uma manhã, uma menina pequena que atuava de forma ruidosa sobre a sala de aula, fazendo gestos incomuns. O professor parou imediatamente a criança com alguma palavra de correção. Eu observava de perto e prestava atenção à esta menina pequena , cujos movimentos estranhos me pareceram ter algum motivo real. Ao questioná-la eu descobri que o professor pela correção distorceu a sua ação e impediu-a de realizar o que seria uma idéia digna: ensinar às outras crianças como realizar com os cerimoniais apropriados alguns atos litúrgicos da igreja – estes eram os seus gestos “incomuns “. Colocando-se no papel de um professor. Ajuda – me a fazer-me por mim. Em uma outra ocasião eu observei um grupo das crianças recolhidas em torno de uma bacia com água que continha alguns objetos flutuando. A parte do grupo estava uma criança muito pequena que manifestava a curiosidade considerável pelo que as outras crianças estavam olhando, mas que era incapaz, dado o seu tamanho, forçar sua passagem para chegar até a bacia. Observando-a de uma distância pequena e vi a expressão do prazer genuíno que veio em sua cara enquanto carregou uma cadeira pequena até o grupo e conseguiu estar nele e olhar sobre as cabeças das outras crianças. O professor viu seus esforços, e, com o mais amável dos motivos, acolheu a criança nos seus braços e colocando a criança em posição confortável disse:- Pronto, pequeno, agora você pode ver tudo muito melhor! Sem perceber o professor distorceu o verdadeiro trabalho e esforço da criança e sua expressão do prazer e do triunfo desapareceram imediatamente. Evidente a criança não sentiu o sentido de gratificação que estaria para ela em superar o obstáculo com seus próprios recursos. A visão do objeto flutuando na bacia não trouxe a alegria, nem a força que resulta com realização pessoal para se alcançar de um objetivo mais importante. Neste caso o professor impediu que a criança atingisse um ponto o mais vital na instrução sem tê-la feito mais feliz. O pequeno estava a ponto de experimentar toda a emoção da vitória, e encontrar-se impotente nos braços do professor frustrou-o. O olhar de intensa energia da concentração intensas que me tinha interessado deu lugar à uma expressão estúpida de pessoa que sabe q
ue outra assumirá a responsabilidade, que outros agirão para ele.