terça-feira, 17 de junho de 2014

O AMBIENTE QUE ENSINA


  Já faz tempo , um dia veio escrito ,na caderneta escolar , um relato de um menininho de uma de nossas classes .
Era o relato da conversa que tivera com a mãe  ao chegar em casa.
Esta , interessada com o que fazia o filho na escola , queria sempre saber o que ele havia aprendido ...
- Filho , diz a mãe , o que foi que a sua professora ensinou hoje na escola ?E ele , muito seguro e feliz responde :- Ô , mãe ! Você ainda não sabe que na minha escola não é a professora que ensina, é a “sala”! Aquele menininho havia captado a essência de uma ambiente que ensina, onde a figura do professor é aquela que “faz o  meio de campo “ , mostrando como se usa um ou outro material apontando novos caminhos ;mas ele teve a consciência que era com  cada material que  fazia descobertas e aprendia , e como eram tantos resumiu-os numa palavra : a sala .
Nunca esqueci esta fala , vinda da natureza espontânea da criança para tornar claro para a mãe uma coisa que ele sentia e vivia sem dúvidas .Para pais , que sem a vivencia montessoriana , formam padrões escolares a partir de suas próprias experiências nas escolas ortodoxas a simplicidade da descoberta do menininho é uma conquista que custa a chegar , na maioria das vezes.
Como entender e  acreditar neste trabalho maravilhoso que a criança desenvolve com os materiais montessorianos , se ele não segue os parâmetros conhecidos ? Escola é lugar de escrever, de registrar no papel ... 
Será isto verdade absoluta?Eu acredito que escola é lugar de construir na mente possibilidades para resolver questões, que nem sempre estão nos papéis, ou melhor, na maioria das vezes estão nas situações que vivemos, com coisas que fazemos, na vida.Escola deve ser o lugar em que exercitamos melhores condições para viver a vida !
O material criado por Maria Montessori tem papel significativo em sua proposta pedagógica, pois pressupõem a descoberta e assimilação de conceitos através da manipulação de objetos especialmente preparados para esta finalidade. Eles estão em cada ambiente dispostos, numa ordem que serve de guia natural para a criança. Não são um caminho definido, mas uma estrada que permite muitas derivações ... A criança usa o material individualmente ou em grupo, à medida de suas necessidades e possibilidades, os professores são auxiliares de aprendizagem. Eles mostram à criança onde encontram o material, como podem começar a utilizá-lo, como guardá-lo após o uso.
No trabalho com cada material que escolhe, e aí reside um dos segredos do sucesso: quando a criança escolhe o que tem vontade de conhecer, sua curiosidade natural é aguçada e nutrida e são inicialmente estes aspectos que evocam a concentração; que vai se instalando, para que gradativamente possa realizar trabalhos maiores e maiores e maiores...A livre escolha das atividades pela criança é um aspecto fundamental para que exista a concentração e para que a atividade seja formadora e criativa.
A manipulação dos materiais vai de encontro a necessidade natural de movimento que têm as crianças.
Materiais de desenvolvimento são tão especiais que permitem que as crianças o utilizem por vários anos e continuem a fazer descobertas.

Todos certamente conhecem ou já ouviram falar da Torre Rosa   e ela será o nosso ponto de partida para o caminho que queremos percorrer.
A Torre Rosa é um material de desenvolvimento que serve à educação dos sentidos, mais especificamente à educação do sentido visual quanto às dimensões. Sua primeira apresentação ocorre geralmente, por volta de 2 anos /2 anos e meio; depois de se  exercitar com um material anterior na habilidade de empilhar cubos ; a apresentação à criança pode ocorrer pela professora ou por um amiguinho mais velho. Então a criança pequena vai  aprendendo  a empilhar os cubos numa ordem de tamanho , percebendo diferenças e semelhanças no próprio material, quando não o faz corretamente, isto é o controle do erro , ninguém precisa falar nada . O material fala ! E se a criança não percebe o erro, é ainda não está suficientemente madura para percebê-lo. 

Ela vai perceber que os cubos podem ser empilhados, postos lado a lado , usa a gradação de tamanhos  do maior para o menor , do menor para o menor , compara o cubo maior com o menor , aprende a nomenclatura grande e pequeno , maior que , menor que ... Descobre que os cubos variam entre si na mesma medida , passando o cubinho do um na lateral de cada outro, quando feita a torre pela aresta ... E vai experimentando possibilidades geométricas e matemáticas que sua mente absorvente vai  registrando até formar conceitos ...
A mente é absorvente até por volta dos 6 anos É assim que acontece com cada material , cada um dele “diz” uma coisa , que se junta a de outro... A de outro ... A de outro , até compreender as coisas do mundo. O papel do professor é dar lições de nomenclatura, pois linguagem é coisa a cultura que passa de uma geração para outra , estar atento para instigar para novos caminhos , estendo a mão e criando pontes ... - Este é o grande ! Este é o pequeno !- Este é o um , este é o mil !- Esta é a aresta !- Este é o vértice !E por aí vai .... Quando o menininho cresce , suas possibilidades de escolher e fazer  seu trabalho com os materiais de desenvolvimento na classe Montessori , ele já desenvolveu uma série de habilidades que facilitam sua autonomia na escola , mas se chega novo numa escola Montessori , aos  pouco também se adapta , se respeitarmos seu tempo e permitirmos suas descobertas . É preciso que nos lembremos que a habilidade que desenvolveu foi a de seguir o mestre ... Agora vai ter a oportunidade de descobrir que tem um mestre interior , aos poucos vai desabrochar e é interessante observar seu percurso :primeiro atua observando o movimento da classe , depois como uma abelha a procura do néctar , vai de um material para outro sem manter a concentração – são tantas as possibilidades ... 
E vai , gradativamente aprendendo a transitar pela livre escolha , geralmente mostra-se maravilhado com as descobertas que pode fazer e se respeitamos seu tempo ,segue em frente na construção de saberes e habilidades que o deixam cada vez mais feliz e competente ! Numa classe de Ensino fundamental a livre escolha tem outro desafio, todos precisam formar valores novos: há coisas que podemos escolher e há coisas que precisamos escolher, então é preciso estar atento para transitar por todas as áreas e mais uma vez emerge a atuação precisa da professora , provocando a reflexão sobre a vontade e a responsabilidade: nem sempre podemos fazer tudo o que temos vontade , mas sempre precisamos  ter compromisso para levar a termo nossas responsabilidades . E na sala , lá estão eles : os materiais de desenvolvimento, que levam pela mão cada criança para novas descobertas ... - Onde  está a Torre Rosa ? Ela bem que poderia estar aqui...- Mas ela bem que está, sim ! Olha o cubinho do um e o cubo do mil no Material Dourado!- Ah !Mas eles já estavam na minha outra classe .Isto eu não fazia quando era da classe dos pequenos , agora sei dividir !- Vamos brincar de Banco! - Olha aqui o tabuleiro da centena !- Nesta sala ela se chama Crivo , ele ensina os números primos e os números múltiplos , quer aprender ? - Pra que servem tantos cartõezinhos  coloridos ?- Pra você aprender a escrever muito direitinho , você pode escolher uma cestinha com cartõezinhos azuis e juntar as palavras com as figuras , depois você pode copiar as palavras .- No outro dia, pode formar frases com as palavras.- No outro dia, pode separar as sílabas .- Nos outros dias , pode dar o plural, separar os substantivos femininos dos masculinos, colocar os artigos definidos ou indefinidos que combinem, atribuir adjetivos, classificar quanto ao número ... Material montessoriano de desenvolvimento é um “brinquedo” muito sério – é o instrumento de trabalho da criança na classe e é através dele  que a criança aprende ; um jogo, no qual as regras precisam ser bem estruturadas por educadores  capacitados , capazes de fazer intervenções que levam a criança a usar cada vez mais o seu potencial . Esse é o segredo :  é a sala  que ensina ! E a sala tem tudo na medida para cada criança aprender o que quiser e o que precisa !


por Marcia Righetti, 2014
Texto usado na reunião,  com pais de maio de 2014 na Aldeia Montessor, i  Unidade 1 .   

domingo, 27 de abril de 2014

A CRIANÇA DE 18 A 36 MESES , O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E O TRABALHO COM TEXTOS.




AS CARACTERÍSTICAS DA INTELIGÊNCIA DA CRIANÇA DOS 18 AOS 24 MESES , SEGUNDO PIAGET:

Período sensório motor :( 0 a 24 meses )

1-    Exercício dos reflexos
2-    Reações  circulares primárias. Primeiros hábitos
3-    Reações circulares secundárias . Coordenação visão – preensão
4-    Coordenação dos esquemas secundários
5-    Reações  circulares terciárias . Descobrimento  de novos meios  por experimentação ativa
6-    Invenção de novos meios por combinação  mental

Sub período pré – operatório :

Aparecimento da  função semiótica e início das interiorizações dos esquemas de ação e representação ( 2 a 4 anos )

“ Até 18 meses a criança  relaciona-se com  o meio através dos seus sentidos e agindo sobre ele . As trocas são principalmente  materiais e limitadas ‘`a situação atual e a esse lugar. Em torno dessa idade, fins do segundo ano começam a aparecer a linguagem e a representação , ou seja , a possibilidade de usar um significante ao invés de um significado . Isso abre enormes perspectivas e uma nova etapa no desenvolvimento. A primeira é denominada período sensório motor devido às características predominantes, ou seja a atividade sensorial e motora , enquanto que depois encontramos uma fase representativa .
Entre a  idade de 2 e 7 anos a criança reconstrói , pela linguagem seus conhecimentos anteriores. A sua capacidade de atenção , no entanto continua sendo limitada e permanece dominada pelo que se denomina egocentrismo. É a etapa do pensamento intuitivo, ou sub-período pré – operatório no qual a criança se mostra muito apegada aos aspectos externos das situações .”

O INÍCIO DA REPRESENTAÇÃO :

“         A representação não surge de maneira brusca , mas  muito gradualmente , e podem ser encontrados seus sinais desde o início do período sensório – motor, embora  não seja ainda considerada como uma autêntica representação .Os antecedentes dessa capacidade representativa devem ser encontrados nas situações em que a criança , a partir de um aspecto da situação , é capaz de reconhecer outros aspectos  ou o conjunto dela mesma .
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No final do período sensório motor é que começam a aparecer significantes que se diferenciam dos significados , que são independentes dos mesmos . Assim surgem os símbolos motores que são produzidos por imitação , como por exemplo uma criança que abre a boca para representar a abertura de uma gaveta , ou de uma caixa de fósforos .


TIPOS DE SIGNIFICANTES

Nem todos os significantes são do mesmo tipo e, por isso, podem se classificados conforme o grau de conexão entre significante e significado . de acordo com esta relação é possível distinguir três tipos de significantes.

-        quando o significante  e o significado não estão diferenciados  , falamos de índices ou de sinais  – por exemplo fumaça é sinal de fogo, barulho de motor de carro significa que á um carro próximo .
-        quando o significante se diferencia do significado, mas guarda uma conexão com ele , fala-se de símbolos  - por exemplo quando uma criança usa um pedaço de pau para fazer de cavalinho , o ato de montar remete-a ao qual faz com o cavalo , um desenho de uma casa simbolizando uma casa .

-        quando os significantes se distanciam totalmente dos significado , falamos de signos , como por exemplo, as palavras ou os sinais matemáticos ( que deveriam ser denominados signos matemáticos ) pois entre uma somo e um + não existe nenhuma conexão .

Podemos comprovar pois a importância do trabalho a ser realizado   desde a classe dos pequeninos , remetendo-os através de estímulos adequados ao aprendizado dos signos o que culminará com o aprendizado da linguagem dos signos – a escrita e a leitura .

AS MANIFESTAÇÕES DA FUNÇÃO SEMIÓTICA :

O que aparece no final do período sensório motor é , então , essa possibilidade de usar significantes  diferenciados ao invés de significados e as manifestações dessa capacidade  que recebe o nome de função semiótica ou simbólica , são diversos tipos de condutas que são aparentemente bastante diferentes , mas que possuem em comum a utilização de algo para designar outra. Essas manifestações são a imitação diferida , o jogo simbólico , o desenho , as imagens mentais e a linguagem.

A IMITAÇÃO :

Ë muito precoce no período sensório motor  e o bebê é capaz de reproduzir prontamente  movimentos que vê nos outros , seja com as mãos , as pernas ou a boca . Mas  essa imitação é realizada sempre na presença do modelo  ao qual está imitando e não há imitação de modelos ausentes .
No final do período sensório motor  começa a aparecer um tipo de imitação que acontece na ausência do modelo , a que denominamos imitação diferida. A criança é capaz de reproduzir algo que viu algumas horas antes, ou dias antes – é pois uma forma de representação diferenciada.

O JOGO SIMBÓLICO :

Constitui-se  numa forma de de representação que guarda íntima relação com a imitação. A criança  está reproduzindo situações que viu , mas reproduz adaptando-as aos seus desejos. Deixa de ser o filho para ser o pai, deixa de ser o paciente para ser o módico , deixa de ser o aluno para ser a professora .Assim  cria situações que consegue controlar e nas quais não é controlada .
Em seguida , ainda no final  do período sensório motora criança começa a utilização de símbolos no jogo, representando assim a realidade , de acordo com as necessidades do sujeito. Esse tipo de jogo permite , então uma manipulação simbólica da realidade , que seria impossível realizar de forma prática .

O DESENHO

O desenho é outra forma de representação da realidade que divide com  o jogo o prazer que sua realização provoca .
Parece que a criança sempre  pretende fazer um desenho realista , mas o que reproduz na realidade é mais o que ela sabe  do que ela vê . Isso explica as etapa do desenho do desenho infantil e que estão intimamente ligadas às etapas pelas quis a criança passa na sua compreensão da realidade .
Podemos ainda considerar  no desenho da crianças  (Luquet,1927 ) etapas distintas :

1-    realismo fortuito , que geralmente implica no descobrimento do significado do desenho durante a sua realização. Enquanto a criança  se entrega  ao prazer  funcional de desenhar, descobre , de repente , uma semelhança entre o seu desenho e algum objeto e assim o manifesta atribuindo-lhe essa significação .

2-    O realismo frustrado , quando a criança ainda não é capaz de organizar os elementos do modelo em uma unidade , colocando-os da forma que pode. Dentro dessa etapa deveriam ser incluídos os desenhos cabeçudos, primeira etapa da representação da figura humana , na qual aparece uma cabeça da qual saem diretamente  uns tipos de fios que representam as extremidades.

3-    O realismo intelectual , que caracteriza-se pela representação dos traços essenciais do objeto sem que haja uma consideração da perspectiva , de tal modo que se é desenhada uma pessoa de perfil , aparecem os dois olhos, ou numa plantação de batatas ela aparecem debaixo da terra .


4-    O realismo visual , que começa  em torno dos 8 ou 9 anos , a criança começa a representar somente o que vê a partir de um ponto de vista determinado , atendo-se o máximo às relações das coisas .

 
AS IMAGENS MENTAIS :

Estas não são simplesmente as marcas deixadas  pela  percepção , mas se constituem numa forma de imitação que não é exteriorizada , ou seja uma imitação interiorizada . A imagem não é  simplesmente uma cópia da realidade , mas representa também um esforço de assimilação e de elaboração da realidade .

 A LINGUAGEM

Representa a última manifestação dessa função semiótica e forma o sistema de representação mais complexo . A Linguagem aparece , no início , subordinada às situações e  posteriormente , vai se tornando independente , cada vez , mais independente.
Sua importância exige que lhe seja dada especial atenção no desenvolvimento da criança .

Ao longo do período sensório motor produzem-se muitos progressos cognitivos que constituirão a fundamentação do desenvolvimento da capacidade lingüística posterior, são os pré requisitos para a aquisição da linguagem .A partir do momento em que a linguagem aparece influi  sobre as aquisições cognitivas.

A  aquisição da linguagem não é  um fenômeno único. Ela apresenta uma diversidade de facetas profundamente relacionadas entre si, com relações muito intrincadas .
Antes da criança aprender a falar , ou seja a pronunciar suas primeiras palavras é o que entendemos geralmente por aprender a falar , ela já percorreu um longo caminho preparatório para  a aquisição da linguagem. Um caminho que consistiu não somente na aquisição dos sons, mas também em outros aspectos menos aparentes .
É conveniente lembrar que a linguagem é muito mais do que somente as palavras e, inclusive , do que as relações entre as palavras. A linguagem tem função comunicativa. Desde o nascimento a criança manifesta sua situação através de diferentes procedimentos , que incluem os gritos, os choros , usados para atrair a atenção do adulto, principalmente quando está descontente .
Os primeiros aspectos da utilização da linguagem parecem ser bastante determinados por fatores do tipo biológico inato – que resultam no aprendizado da linguagem a qual está exposta ..
As primeiras palavras que a criança emite não designam necessariamente  , de imediato , conceitos ou objetos . Sua fala resulta da aprendizagem de combinar os sons e da imitação da fala do adulto , sem que  capte o aspecto da situação que a palavra designa .
Por um lado as criança generalizam o significado de uma palavra para fazer referência a muitos objetos aos quais não é aplicada habitualmente – como por exemplo “ ola “ para nomear uma bola , um biscoito de forma arredondada , marcas redondas  etc . A criança capta uma característica comum entre estes objetos e  isto a leva a generalizar .
Durante longo tempo a criança irá considerar que as palavras são uma propriedade das coisas . Não há diferenciação entre o significante e o significado , e a criança não aprendeu o caráter arbitrário  das palavras .
As primeiras palavras  utilizadas pelas criança  designam muito mais do que objetos . Designam intenções , desejos , pedidos , relações ..
Posteriormente a criança vai expressando por meio das combinações de palavras  um conhecimento cada vez maior sobre o mundo que a cerca ao mesmo tempo que progride seu desenvolvimento psicológico geral e sua capacidade lingüística  não somente se manifesta na  aprendizagem de  um número cada vez maior de frases , mas principalmente na capacidade de produção de novas frases que nunca ouviu anteriormente . Assim, aos poucos a criança vai descobrindo as regras que regem a linguagem , as regras relativas ao singular e ao plural , ao masculino e ao feminino , às conjugações dos verbos e às combinações de palavras , assim como à ordem em que esta devem ser apresentadas .


Bibliografia :

Denval, Juan – Crescer e Pensar , A construção do conhecimento na Escola – Editora Artes Médicas, tradução de Beatriz Afonso Neves , Porto Alegre 1998

Montessori , Maria – La Mente  del Bambino , Garzanti ,Milão 1952.

Vita dell’ Infanzia – Opera Nazionalle Montessori ,Roma

Kaufman,Ana Maria – A leitura , a escrita e a escola .Artes Médicas, 1994



Trabalhando  com textos numa classe   de Nido
( crianças de 18 a 36 meses )

I - A escolha do texto :
 É necessário considerar que nesta idade as crianças estão ampliando seu conhecimento do mundo e que a percepção do que é real e do que é imaginário ainda não está estabelecida .

Acreditamos que histórias baseadas na vida real sejam as mais indicadas para esta faixa etária , enriquecendo o universo infantil com situações da realidade próxima e da realidade distante , mas sempre as  da realidade .

É preciso ter muito cuidado com os textos que envolvam o imaginário , para que o limiar entre realidade e fantasia sejam adequadamente estabelecidos .

Escolhemos para trabalhar com as turmas deste segmento no primeiro segundo bimestre maio , junho e julho  , os contos  da vida real .

II  - Das características do texto:
 Os contos da vida real retratam situações do cotidiano que poderiam acontecer com qualquer pessoa .
Não há seres “ imaginários “ , bichinhos que falam , bruxas ou fadas ...
É preciso esperar mais um pouquinho para apresentar este tipo de literatura para a criança , pois somente quando for capaz de usar significados pode  começar a compreender tais histórias .
A estrutura de um conto  sempre inicia com a caracterização do  local onde a trama se desenrola ,ou do personagem que vai desencadear a ação .
Ë importante observar a fala dos personagens , os adjetivos utilizados para descrever os personagens e o lugar onde desenrola-se a trama , levando o leitor a construir imagens mentais do que é narrado .
Na trama existe o momento em que o elemento desnormalizador aparece , em seguida a busca da solução e como clímax o caso solucionado .
O tempo verbal utilizado pelo autor reforça a idéia do tempo em que se desenrola a ação .

III – Desenvolvendo o trabalho com as crianças :
Como nossa criança está entre o período sensório motor e o sub-período pré operatório, construindo a relação entre significantes e significado ,e desenvolvendo a aquisição da linguagem , atividades que envolvam ação , representação  são muito recomendáveis . Um canto de dramatização precisa ser criado em cada sala para permitir que a criança imite  e represente as diferentes situações da história

a)    O Orientador de classe “toma posse do texto “ .
-        tendo escolhido o texto é necessário analisá-lo para levantar todas as possibilidades que oferece .
-        ler a história com atenção , observar se alguma palavra precisa ser explicada à criança
-        “treinar a leitura “ se necessário para poder fazê-lo com desembaraço .

b)    Desenvolvendo o projeto :

Atividades em pequenos grupos:

Dia 1 _ Contando a história :
-        Ler o texto para as crianças .
Ler mesmo para não se perder inventando nesta etapa um novo texto que não  preserve as qualidades  do texto escrito pelo autor escolhido. Mostrar as ilustrações entre uma página e outra  a medida que lê para que  a criança possa acompanhar com as imagens a trama narrada.

Dia 2- Mostrar novamente o livro e conversar com as crianças  sobre os personagens:

-      Fazer o levantamento dos personagens, registrando num blocão , poderá ser combinado com as crianças  que a Orientadora de Classe escreverá o nome e eles desenharão, ou será o personagem xerocado do livro e colado na folha do Blocão , ou o que combinarem
-        Escrever o nome dos personagens       
-      Fazer com as crianças uma “LISTA “ ( cada criança escreve na sua folha , do seu jeito  a relação dos personagens da história  , os nomes podem   ser ditos pela criança ou evocados pela orientadora )
 Dia 3 -
-        Fazer os personagens  da história com massinha
-        Fazer o objetos da história com  massinha

Dia 4
-        Montar um “banco de palavras “com as palavras que aparecem na história
-     Pesquisar em revista objetos que apareçam na história , retirar e colar no blocão
ou selecionar para fazer livro .
 - Fazer com as crianças  uma “LISTA “( vide orientação no ítem relativo aos personagens )
 Acompanhando esta etapa o Orientador deve incorporar aos ditados mudos o vocabulário significativo da história., classificando-o nas caixinhas adequadas e criando as caixinhas que forem necessárias para cada nova classificação .

Dia 5
-        Conversar novamente sobre a história , mostrando as gravuras do livro.
-        Fazer o reconto da história – as crianças contam a história e a Orientadora de Classe escreve no blocão como elas contam , sem fazer interferências  .

Dia 6
-        Reler o reconto para completar .
-        Fazer no texto as correções necessárias , passar a limpo e deixar exposto .

Dia  7:
-   Xerocar as gravuras significativas do livro e montar o livro  com o reconto das crianças .

c)    Atividades paralelas :
-        Confeccionar cartões de ditado mudo com objetos que aparecem na história
-        Confeccionar cestas de reconhecimento com objetos que aparecem na história
-        Fazer livros montessorianos com objetos que aparecem na história, a capa pode reportar à história lida .
-        Fazer dramatização , onde cada criança escolhe o personagem que quer ser e faz “uma coisa “ como este personagem .
-        Procurar músicas e brincadeiras  que tenham afinidade com o texto escolhido para enriquecer o trabalho.
-        Fazer o registro das  “ palavras que aprendemos “ no Blocão , com gravuras pesquisadas pelas crianças .

Nota:

Este projeto é de curta duração ,deve ser desenvolvido em até três semanas l . 

Ao terminar o primeiro ,  selecionar outro livro , de acordo com a preferência do grupo e desenvolver as etapas orientadas , tendo em vista proporcionar atividades que favoreçam e atuem com estímulo ao desenvolvimento da linguagem ,à construção do conhecimento e respeitem as etapas do desenvolvimento da inteligência e o ritmo de cada criança em particular ,.